É incrível com algumas empresas tem a incrível capacidade de pegar boas ideias e transformá-las em desastres incompreensíveis e totalmente sem graça. Será que custa tanto deixar que a máxima ''em time que está ganhando não se mexe'' prevaleça? Tudo indica que sim. E a última vítima da hiperatividade e necessidade de mudanças da indústria foi a série Call of Juarez. Sua principal característica era oferecer histórias que lembravam bastante os antigos clássicos do faroeste americano, um gênero que já foi melhor explorado no mercado de games, mas que hoje carece de bons títulos.
É o faroeste moderno, patrão! |
O primeiro título da série foi bem bacana, assim como o segundo. Não eram exatamente jogos inovadores, mas traziam consigo uma essência que mantinha o interesse do jogador por um bom tempo, pelo menos até o término da história. Tudo muito bonito, tudo muito bacana, até que a produtora Techland resolveu ''inovar''. No lugar de conflitos entre famílias, clãs que lutam pela posse de territórios ou a eterna guerra entre homem branco e índios pele-vermelha, a produtora resolveu trazer o contexto do game para os dias atuais, em que um pistoleiro mexicano veterano de guerra se une à polícia local na tentativa de desbaratar uma poderosa gangue de traficantes. Tudo isso em Call of Juarez: The Cartel.
Dias atuais? Gangue de traficantes? Só pode ser um pesadelo... e acredite, é. A proposta de pegar um contexto clássico e adaptá-lo para tempos recentes não é exatamente ruim. Um bom exemplo é a adaptação de Baz Luhrmann do clássico Romeu e Julieta, escrito por William Shakespeare, para um contexto bem próximo ao apresentado no game. A diferença é que o filme acabou se saindo bem, ainda que não agrade a todos, enquanto o jogo passou foi longe. São inúmeros os problemas que vão de a história desprezível à jogabilidade medonha e repetitiva. Uma verdadeira mancha na série.
Sem muitas delongas, vamos ao resumão da trama presente em Cartel: ela deprime. Ela conta a história de uma dupla de policiais na tentativa de acabar com um poderoso cartel mexicano. Sem muitas esperanças em como prosseguir com o caso, a polícia acaba ''apelando'' para uma medida desesperada: um ex-policial veterano de guerra, conhecido não só por sua má conduta durante seu período de atividade na corporação, mas também por ter sido parceiro de guerra do próprio líder da temida gangue de traficantes.
Deu pra sacar a profundidade absurda de toda a história, não é verdade? Um ex-policial, afastado por não ser lá muito confiável e que ainda por cima tem algum tipo de ligação com o líder de um perigoso cartel de drogas é chamado como a última esperança, já que não só a divisão de narcóticos da região falhou miseravelmente em sua missão, mas também o FBI. Perfeitamente aceitável, claro.
Mas o problema na história não está limitado a essa ''desculpa esfarrapada''. Após uma grande introdução, feita por meio de uma sequência de animação não interativa, o game simplesmente coloca o jogador no controle de um personagem à sua escolha – o machão da narcóticos, a morena belzebu do FBI ou o ex-policial mexicano sangue-de-tequila – e... é isso. A progressão dos fatos é repleta de falhas absurdas, furos inexplicáveis e pequenos cacos no texto que nada acrescentam, pelo contrário, confundem.
Além das inúmeras falhas na jogabilidade, Call of Juarez: The Cartel também decepciona pela jogabilidade incrivelmente ruim e sem inspiração. Os problemas começam logo no primeiro tiroteio. É difícil identificar a posição dos adversários, que acabam se ''mesclando'' facilmente ao cenário. Isso pode até soar mais realista, mas prejudica de forma considerável a jogabilidade. Outro problema é que o game é extremamente repetitivo. Os estágios seguem quase sempre o mesmo formato: siga os pontos que marcam os objetivos, pare, tiroteio, mate todos, siga, pare, luta mano-a-mano, detone todos, siga, pare, mais tiroteio, e por aí vai. Ah sim, também existem as sequências de carro, onde o jogador precisa dirigir um veículo até determinado ponto. São tão ruins que nem valem um comentário mais completo.
O tiroteio presente no game não é exatamente ruim, mas é muito mal aproveitado. Existem alguns recursos que tentam oferecer uma vida extra a ação, como o já manjado efeito de câmera lenta, permitindo que o jogador dê cabo de seus adversários antes que eles consigam reagir, mas nem isso consegue salvar o jogo de uma mortal mesmice. É fácil perceber os momentos em que este recurso, finito por sinal, precisa ser utilizado e toda essa previsibilidade acabou tornando tudo muito engessado. E ainda existe o problema da falta de desafio.
O fato é que independente do personagem escolhido, o jogador sempre contará com dois parceiros controlados pela inteligência artificial do game. Porém, o que deveria ser um ponto positivo acabou se tornando algo bem negativo. Seus parceiros simplesmente são bons no gatilho e nunca são seriamente alvejados. Em alguns momentos, eles simplesmente dão cabo da maior parte dos inimigos, sempre deixando o último para o jogador. É que a estrutura do título exige que isso seja feito para que determinados eventos sejam ativados. E aí vai mais um problema.
The Cartel é um jogo repleto de problemas técnicos, alguns insignificantes, outros estranhos e parte deles insuportável. Um dos piores problemas está ligado à colisão dos modelos em 3D com o cenário. Não é difícil observar um personagem preso ou ''dentro'' de algum objeto. O fato é que, como muitas vezes é necessário matar todos os inimigos daquele segmento para que a história possa seguir em frente, alguns destes bugs impedem que o jogador avance na história. Dor de cabeça, azia e mal estar? Neste caso é até difícil apresentar alguma solução...
Falando ainda da jogabilidade, é preciso lembrar que Call of Juarez: The Cartel também possui um modo multiplayer! Esqueça, simplesmente não vale à pena. Ele não oferece nada de diferente em relação às diversas outras opções presentes no mercado, com o agravante de ter uma jogabilidade ainda pior que a apresentada durante a história principal. É que, mesmo sem perceber, o jogador conta com uma pequena ''ajudinha'' na hora de mirar, já que o personagem passa a apontar sempre para uma direção bem próxima, senão exata, de onde o inimigo está, sempre que a mira é feita. Isso não ocorre durante o multiplayer, deixando tudo ainda mais difícil e irritante.
Graficamente o jogo desliza em inúmeros pontos, mas até que se esforça. Os cenários possuem uma boa quantidade de detalhes, como florestas repletas de árvores, grama, pequenas pedras e inúmeras imperfeições que ajudam a tornar a experiência mais crível. Por outro lado, texturas carregam à torto e à direita, objetos brotam do nada, sem contar aqueles que acabam se atravessando, já que o game apresenta inúmeras falhas neste sentido. Nem mesmo a parte sonora se salva, já que apresenta inúmeras inconsistências. Nada supera trocar tiro com os ''manos do ghetto'' e ouví-los xingar de volta, em espanhol macarrônico.
Call of Juarez: The Cartel é na verdade uma mancha negra no nome da série. O jogo tenta inovar algo que era interessante e, de certa forma, tentava suprir um pouco a falta de jogos com foco no antigo faroeste americano. No lugar disso, o jogador é transportado para uma briga entre gangues, e ainda tem que lidar com personagens sem carisma, história chinfrim e jogabilidade repetitiva e travada. Nem com muita tequila...
Nenhum comentário:
Postar um comentário